Apesar do sucesso inicial do QuickTime como arquitetura multimídia e formato de vídeo, quando Steve Jobs retorna para a Apple, em 1997, o futuro parecia sombrio para uma legião de profissionais que apostavam suas fichas em ferramentas profissionais de desktop vídeo para Mac. Afinal, a empresa simplesmente corria o risco de falir.
Foi então que, entre outras sacadas de gênio, Jobs resolveu tratar o vídeo digital como a nova bola da vez em termos de área estratégica para a Apple. É aí que surge o projeto do Final Cut Pro, idealizado para funcionar com os iMac com porta Firewire e suporte ao então recém surgido formato de vídeo DV.
Em abril de 1999, durante a NAB, o próprio Jobs anuncia a primeira versão do FCP juntamente com o QuickTime 4.0. Em outubro, sai o iMovie. E a pós-produção de vídeo digital nunca mais seria a mesma, com o surgimento de todo um ecossistema de hardware e software de arquitetura aberta e incrivelmente acessível, em torno das soluções da Apple.
Na sua apresentação na WWDC no ano seguinte, o mesmo em que o Mac OS X é mostrado pela primeira vez, Steve Jobs faz a declaração definitiva: “Agora somos uma empresa de vídeo.” Era a confirmação do caminho tomado, que levou o Final Cut Pro à hegemonia no seu nicho de mercado até o final da década.
Em 2011, meses antes de sua morte, a Apple lançou o Final Cut Pro X, uma das últimas cartadas de Jobs, sempre fiel à sua lógica de entender a simplicidade como máxima sofisticação. A base de usuários se dividiu, com muita gente rejeitando o novo software, de caráter disruptivo, completamente diferente e incompatível com as versões anteriores.
Para os que ainda torcem o nariz para o FCP X, só resta citar uma das famosas frases do grande guru, dita quando voltou à Apple: “O consumidor de tecnologia não sabe o que quer comprar. Pesquisar não funcionará. A Apple precisa criar produtos que o consumidor olhe e pense – eu quero isso, eu preciso disso, eu não posso viver sem um desses.”
O tempo vai dizer se ele também estava certo sobre isso nesse caso. Mas uma coisa é indiscutível. Os profissionais de edição, motion graphics, animação 2D e 3D, e a indústria do audiovisual em geral, devem muito a Steve Jobs. Sem ele, tudo teria sido mais chato e complicado, menos elegante e sofisticado, ou até inacessível.
Por tudo isso, obrigado, Steve! Restore in Peace.
(post publicado originalmente no blog VideoGuru em 28 de outubro de 2011)