Tradicionalmente, existe, ao mesmo tempo, um tanto de desinformação e uma certa confusão em torno do que vem a ser motion graphics. Mas o que realmente estaria por trás de toda essa discussão?
Essencialmente, motion graphics pode ser entendido como uma área de criação que permite produzir certos tipos de narrativas através da combinação e transformação de camadas de imagens bidimensionais no espaço-tempo, que podem originalmente conter duração (video, animações 2D e 3D, etc.) ou não (fotografias, grafismos – incluindo tipografia escrita – ilustrações, etc.), e também de camadas de outra dimensão, por assim dizer, que seriam os sons (musica, ruídos e efeitos sonoros), etc.), que contém duração pela própria natureza.
Motion Graphics é ainda, reconhecidamente, uma área de criação projetual, em que a ferramenta (em nossos dias, o software de composição de imagem em movimento) que dá forma ao produto final, representa, idealmente, quase que tão somente uma instância de execução. Nesse sentido, motion graphics se inscreve como uma área híbrida de design gráfico e audiovisual, ao menos conceitualmente.
Como contribuição ao debate, em seguida, analiso algumas armadilhas que acompanham o significado do termo motion graphics.
1 – Motion graphics pode ser traduzido como videografismo?
No Brasil, muitos traduzem motion graphics por vídeografismo, que considero impreciso e confuso. Seguindo essa nomenclatura, quem faz vídeografismo seria um videografista, certo? Ora, tradicionalmente o operador de câmera de cinema é chamado de cinegrafista, o que dá margem ao entendimento que vídeografista seria o operador de câmera de vídeo.
Na falta de uma tradução melhor, prefiro o uso do termo em inglês. Uma outra hipótese seria a adoção da tradução mais literal possível, “grafismos em movimento”, embora alguns discordem da palavra grafismo para traduzir “graphics”.
2 – Motion graphics é uma técnica?
Por vezes recorrente, há a noção de que motion graphics se resume apenas a um aspecto técnico. Em geral, essa concepção embaralha diferentes técnicas de animação e ferramentas, impedindo a percepção de nuances conceituais. Simultaneamente, restringe a noção de motion graphics ao ignorar aspectos de linguagem que permeiam o termo como forma de expressão.
3 – Motion graphics ou motion design?
Alguns autores crêem que o motion graphics se resume às aplicações de design gráfico para TV e cinema (broadcast e film design). Na realidade, temos aí um outro equívoco. Essas aplicações podem estar contidas ou não dentro do território do motion graphics, que não se resume a elas. E aí é que surge uma outra confusão, que se configura a partir do uso do termo MOTION DESIGN.
Motion design passa uma idéia mais ampla, que extrapolaria o motion graphics por abarcar todo e qualquer tipo de design para mídias com imagens em movimento. Nessa acepção, poderiam se inscrever, por exemplo, certos tipos de letreiros luminosos dinâmicos, como os novos billboards digitais, ou quem sabe até o design de um móbile.
Penso que o termo motion design pode ser considerado desde que compreendido como uma abreviação de “motion graphic design”. Esse é, aliás, o termo que encontramos no título de um dos livros fundamentais nessa área: “Motion Graphic Design and Fine Art Animation: Principles and Practice, de Jon Krasner”.
Ao mesmo tempo, há que se considerar que existem muitas aplicações de motion graphics fora das aplicações de design gráfico para mídias dinâmicas tais como o videoclipe, a vídeoarte, vídeos narrativos ou experimentais.
Há um belo vídeo disponível na web, que discute o significado e o conceito de motion design, corroborando, em parte, a concepção que defendo aqui. Ele foi produzido para o projeto “Motion Plus Design”, que visa criar um centro de exibição dedicado ao motion design em Paris.
“Motion Plus Design” Center : “What is Motion Design ?” por Motion Plus Design no Vimeo.
4 – Animação 3D também é motion graphics?
Como o termo apareceu com a evolução das ferramentas de manipulação de imagem por computador, muitos defendem que o motion graphics compreende a animação 3D. Tanto do ponto de vista das abstrações da matemática aplicada como do ponto de vista do universo formal disponível, a animação 3D se mostra como uma área a parte, completamente autônoma.
Um outro fator tem colaborado para essa dificuldade de distinção: de alguns anos para cá, quase todos os programas de composição de imagem em movimento (a verdadeira ferramenta de motion graphics) passaram a incluir recursos de manipulação das camadas de imagem, iluminação e câmeras virtuais no espaço tridimensional.
Essa situação criou um hibridismo a mais na estrutura operativa do motion graphics, mas do ponto de vista conceitual e no que diz respeito à linguagem, nada muda, até porque sempre foi possível utilizar animações 3D prontas como um dos elementos de um trabalho de motion graphics.
A única diferença reside no fato de que esses elementos passaram a poder ser produzidos, com certas restrições, no próprio ambiente operativo dos programas de composição de imagem em movimento.
Pode-se deduzir desse quadro, junto a outros aspectos de desenvolvimento da computação gráfica, que está em curso uma tendência de constituição de um novo modelo de ambiente de manipulação e animação de imagem em movimento onde os limites entre o bidimensional e o tridimensional seriam eliminados.
Essa tendência, uma vez concretizada em novas ferramentas, poderia levar a um outro conceito distinto ou expandido do motion graphics. Mas isso já é uma outra história, que ainda está sendo escrita.
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Enfim, essa é uma discussão que segue em aberto, e espero, com esse texto, estar contribuindo para esse processo de reflexão coletiva.
(post publicado originalmente no blog VideoGuru em 14 de dezembro de 2011)